29/05/2014 18:54:00 - Atualizado em 29/05/2014 19:04:00

Mais de 89% das grávidas passam por cesárea na rede privada

Clarissa Thomé/Agência Estado
As grávidas brasileiras são convencidas ao longo da gestação a terem seus filhos por cesárea. É o que mostra o estudo Nascer no Brasil - Inquérito sobre Parto e Nascimento, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz, divulgado na tarde desta quinta-feira (29), no Rio de Janeiro. No total, 23.894 mulheres foram entrevistadas, em 266 hospitais de médio e grande porte, localizados em 191 municípios brasileiros. O levantamento ocorreu em 2011.

Do total de mulheres ouvidas, 72% queriam parto normal logo que engravidaram. Os bebês nasceram por cesárea em 52% dos casos. A situação é mais grave na rede particular. Entre as mulheres que esperavam o primeiro filho e foram atendidas em hospitais pagos, o índice de mulheres que desejava cesárea era de 36% no início da gestação. Ao fim dos nove meses, essa proporção havia subido para 67%. Ainda que um terço das mulheres quisesse o parto normal, 89,9% tiveram seus filhos pelo método cirúrgico. Entre as mulheres atendidas na rede pública, 15% queriam a cesárea tanto no início quanto no fim da gestação - 44% tiveram seus bebês dessa forma.

"Tem uma cultura instituída de que a cesárea é o melhor método para se ter filho. Talvez elas não sejam informadas dos riscos. A cesariana aumenta o risco de morbidade respiratória nos bebês, também aumenta o risco de internação em UTI. Também faz aumentar os óbitos maternos. Em gestações subsequentes, pode haver placentação anormal, já que o útero não é mais íntegro. Outra questão é que o bebê não se coloniza com as bactérias da mãe, já que não passou pelo canal vaginal. Ele se coloniza com a flora bacteriana hospitalar. Os efeitos, a longo prazo, são o risco maior de síndrome metabólica, asma e diabete", alertou a pesquisadora Maria do Carmo Leal, coordenadora da pesquisa.

Para a pesquisadora Silvana Granato, subcoordenadora da pesquisa, as mulheres fazem mais cesáreas "porque o nosso parto normal é muito ruim". Ela se refere ao número de intervenções desnecessárias, como episiotomia (corte na vagina para facilitar a saída do bebê) e aplicação de ocitocina (hormônio sintético indutor de contrações).

O estudo chama a atenção ainda para a importância do planejamento da gestação. Das mulheres entrevistadas, apenas 45% disseram que desejavam a gravidez. Perguntadas se estavam satisfeitas com o nascimento do filho, 9% responderam negativamente. "Um quarto das gestações terminam em aborto. Há uma falha no planejamento da gravidez e é preciso falar sobre isso agora. Temos de parar de fazer de conta que está todo mundo feliz com a gravidez. Está na hora de discutirmos o aborto no País", defendeu Silvana. A depressão materna foi detectada em 26% das mulheres, entre 6 e 18 meses após o parto.

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